Há 19 anos, o país sofria a maior crise de abastecimento de energia, mas especialistas garantem que colapso não se repetirá, mesmo que a indústria volte a crescer a todo vapor
postado em 03/02/2020 04:00 / atualizado em 03/02/2020 08:56
Os indicadores industriais, no entanto, apontam intenção de maior utilização da capacidade instalada em 2020. Para os especialistas, mesmo com uma improvável expansão mais robusta da atividade econômica, não há risco de desabastecimento, porque, em 19 anos, o país diversificou a matriz energética – com mais parques térmicos e maior participação de geração eólica, solar e de Pequenas Centrais hidrelétricas (PCHs) – e ampliou as linhas e a capacidade de transmissão de eletricidade.
Segundo o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), “mesmo com uma possível retomada do crescimento industrial, não haverá problemas de suprimento de energia”. O consultor técnico da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), Arnaldo dos Santos Júnior explica que, pela ótica da demanda, o consumo industrial encerrou 2019 com queda de 1,6% em relação ao ano anterior e de 9,4% com relação ao máximo histórico, em 2014.
No entanto, para 2020, o cenário para a carga (consumo mais perdas) de energia do Sistema Interligado Nacional (SIN) aponta expectativa de forte retomada de utilização de capacidade na indústria brasileira.
“Assim, o crescimento do consumo industrial projetado para 2020 é de 4,9%, maior taxa desde 2010, quando o crescimento do consumo industrial foi de 6,9%”, ressalta. A expansão da carga é estimada em 4,2% frente 2019, acrescenta.
FOLGA ESTRUTURAL
Para o presidente do Fórum das Associações de Energia Elétrica (Fase), Mário Menel, que também preside a Associação Brasileira dos Investidores em Autoprodução de Energia (Abiape), há folga estrutural para 2020.
“A possibilidade de racionamento está completamente descartada. Teremos quatro leilões de energia este ano, com cerca de 45 gigawatts (GW) em projetos novos num horizonte de quatro a seis anos. É uma oferta muito grande, considerando que o Brasil tem 170 GW de capacidade instalada”, assinala.
Só haveria algum perigo, segundo Menel, se a indústria, muito rapidamente, pudesse ocupar a capacidade ociosa, hoje em 30%. Nenhum indicador, no entanto, aponta tal guinada, mas uma retomada gradual.
Charles Lenzi, presidente da Associação Brasileira de Geração de Energia Limpa (Abragel), compartilha da mesma opinião. “Há uma dificuldade das distribuidoras em determinarem a demanda futura”, diz.
“Mas isso não compromete a segurança do sistema. O abastecimento está garantido, sobretudo, diante de uma previsão de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) na faixa de 2,5%. Se o país crescer de 3% a 3,5%, terá de retomar os níveis de contratação de 2012/2013, aumentando a capacidade instalada em torno de 6 GW ao ano”, estima.
A melhoria do setor elétrico nos últimos anos eliminou a possibilidade de novo apagão, na opinião do presidente da Associação Brasileira dos Distribuidores de Energia Elétrica (Abradee), Marcos Aurélio Madureira.
“Não vejo risco. O Brasil tem feito investimentos importantes em geração e transmissão e a distribuição investe R$ 16 bilhões por ano”, explica. “Devemos suportar o crescimento da economia, mas precisamos de tarifas mais baixas, por isso é necessário reduzir os subsídios”, diz.
Analistas de mercado também descartam a possibilidade de desabastecimento. Gustavo Bertotti, professor da FSG – Centro Universitário da Serra Gaúcha e head de renda variável da Messem Investimentos, ressalta que o setor elétrico evoluiu muito nos últimos anos.
“Fez gestão de passivo, redução de custos. Aprendeu a lição. Não temos o risco de repetir 2001. As empresas estão muito preparadas e são as principais pagadoras de dividendos”. Alan Zelazo, sócio da Focus Energia, assinala que as distribuidoras estão sobrecontratadas até 2024 ou 2025. “Mesmo que nosso sistema ainda dependa de condições hidrológicas, atualmente, temos um parque térmico robusto. Ou seja, a energia pode até ficar mais cara, mas não vai faltar”, afirma.