Preço alto inviabiliza venda da Celg

Valor Econômico

Por Camila Maia, Rodrigo Polito e Murillo Camarotto | De São Paulo, do Rio e de Brasília

O leilão de privatização da Celg Distribuidora (Celg D), originalmente marcado para sexta-feira, foi cancelado por não ter atraído o interesse de compradores, informou ontem o governo. Na retomada do processo, o preço do ativo, considerado muito elevado pelos investidores, será recalculado.

Como já era esperado pelo mercado, a disputa “foi considerada deserta por falta de interessados”, informou oficialmente o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). O anúncio foi feito depois do término do prazo para entrega das propostas e aportes das garantias, que aconteceu na manhã de ontem.

Com o cancelamento, o Ministério de Minas e Energia (MME) e o BNDES disseram que iriam reavaliar os parâmetros de formação de preço da distribuidora. Em comunicado, o MME informou ainda que o processo de ajuste dos preços será feito de modo que a “desestatização seja adequadamente retomada no menor espaço de tempo possível.”

Privatização precisa ser feita rapidamente para não ‘congestionar’ vendas de ativos, diz o presidente da Eletrobras

O processo de venda da distribuidora, que tem como sócios a Eletrobras e o governo do Estado de Goiás, teve início em maio do ano passado. O edital de privatização foi publicado em 24 de junho, mas o preço mínimo estabelecido foi considerado muito alto com conta da dívida que a companhia carrega. Segundo o edital, o preço mínimo fixado foi de R$ 2,8 bilhões. Em 30 de junho do ano passado, porém, o endividamento total ajustado da distribuidora era de R$ 2,451 bilhões, de acordo com o documento. Foram principalmente o preço e a dívida que afastaram os investidores da operação.

Não foi indicada qual será a alteração nos preços. Analistas, porém, calculam que poderia ser necessário um corte de 30% a 40% no preço mínimo estabelecido originalmente, para que a avaliação do ativo da Celg D se aproxime de outros no mercado.

Para o executivo de uma grande empresa do setor elétrico que pediu para não ser identificado, se ocorrer uma redução do preço, a venda da distribuidora deve atrair interessados. “É necessário precificar o ativo corretamente”, disse, completando que o cancelamento da disputa não foi uma surpresa.

A ausência de propostas para o leilão não pode ser considerada uma derrota do governo, mas indica a necessidade de ajustes nos parâmetros da licitação, como o preço do ativo, disse o professor Nivalde de Castro, coordenador do Grupo de Estudos do Setor Elétrico (Gesel), da UFRJ. Na avaliação dele, o preço mínimo estabelecido foi fixado mirando o interesse do grupo chinês State Grid, que, em geral, avalia ativos em uma perspectiva de mais longo prazo e de participação mais ampla no setor elétrico brasileiro. Mas, com a proposta firme de adquirir todo o controle da CPFL Energia, a chinesa ficou de fora do leilão, deixando o certame sem interessados.

O fracasso da primeira tentativa não mexe com a intenção do governo de vender a Celg D, disse ontem Paulo Pedrosa, secretário-executivo do Ministério de Minas e Energia. “Vamos conversar com o mercado e estamos abertos [a reavaliar o preço]”, afirmou.

O governo de Goiás também garante que a decisão de privatizar a distribuidora não será revista. “Não há mudança em relação à isso, é decisão do governo federal e do Estado. Vamos trabalhar para que o leilão aconteça”, disse ao Valor Ana Carla Abrão Costa, secretária da Fazenda de Goiás.

“Nossa preocupação é fazer no prazo mais curto possível. É importante que o leilão saia, para nós do governo do Estado e para o consumidor goiano. A empresa precisa de aportes de capital e de investimentos”, disse a secretária.

Quando houver um rascunho do cronograma, serão feitos os cálculos para ajuste do processo de venda. “Vamos fazer as contas, se será ajuste no preço, se precisarão de aporte de capital. Vamos ver com base no novo prazo”, disse a secretária de Goiás.

“A única coisa que temos clara é a decisão de privatizar a empresa, da confiança na qualidade e na atratividade do ativo e na necessidade de fazer isso num curto espaço de tempo”, disse Ana Carla. Segundo ela, é importante que o processo seja feito o mais rápido possível, mas também com as melhores condições que conseguirem.

A nova tentativa de transferir o controle acionário da distribuidora de energia Celg D ocorrerá “no menor prazo possível com segurança”, disse ontem Pedrosa, que participava da audiência pública no Senado que discutia a Medida Provisória 753/2016.

Pouco antes, o governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB), disse acreditar que o leilão poderia ocorrer em setembro, mas Pedrosa não se comprometeu com prazos. De acordo com Pedrosa, o processo será reiniciado, inclusive com a possibilidade de novas audiências públicas. O secretário afirmou que o governo precisa ter humildade para aceitar a avaliação que o mercado fez sobre o negócio.

O cancelamento da disputa chamou ainda a atenção para o cenário enfrentado pela Eletrobras. Entre os ativos da estatal colocados à venda, a distribuidora goiana é considerada o melhor. “É o carro chefe, precisa ser vendido”, disse Guilherme Schmidt, advogado especialista em energia e sócio do L.O. Baptista-SVMFA. Se a Celg D, mesmo sendo o melhor dos ativos, não tiver interessados, será pior quando chegar a vez de privatizar as outras distribuidoras.

Segundo Wilson Ferreira Junior, presidente da Eletrobras, o caso da Celg é diferente do enfrentado pelas demais distribuidoras, que têm desafios de geração de caixa e na obtenção de resultados positivos. “Pode ter havido, em função da mudança de perspectiva de crescimento do país, de algumas coisas ligadas a isso, um interesse menor do que a gente esperava. Isso obviamente, no processo de reavaliação, vai ser considerado. Mas ela é uma companhia preparada, muito pujante”, disse Ferreira.

Para Ferreira, a área de concessão da Celg D é “espetacular, no coração do agronegócio brasileiro”. Segundo o executivo, a ideia é que a privatização possa ser feita rapidamente, “para não congestionar o processo de privatização que pretendemos fazer no ano que vem [das demais distribuidoras]”, completou.(Colaborou Rafael Bitencourt, de Brasília)

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